Estresse e síndrome de burnout no ambiente de trabalho: como o RH pode ajudar os colaboradores?

Por

Thiago Liguori

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Thiago Liguori

Publicado em

3/6/21

O Brasil é o país com mais buscas sobre a burnout na internet fora da Europa. 

Este dado curioso mostra uma realidade preocupante: de acordo com dados da International Stress Management Association (ISMA), estamos em 2º lugar no ranking mundial de países com casos da síndrome de burnout no ambiente de trabalho. 

Atualmente, 1 a cada 4 colaboradores já estão sofrendo com o esgotamento profissional - é o que diz uma recente pesquisa da USP

Diante deste cenário, é fundamental entender como a organização pode ajudar a prevenir o adoecimento dos colaboradores e, ao mesmo tempo, evitar um impacto financeiro considerável para a empresa. 

Acompanhe o artigo e veja:

O que é a síndrome de burnout no ambiente de trabalho?

A síndrome de burnout, segundo a OMS, é um quadro de adoecimento psíquico relacionado ao estresse crônico relacionado ao ambiente de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. 

Ela foi descoberta pelo psicólogo Herbert Freudenberger em 1974 e seu significado vem do verbo inglês “to burn out”, que significa exaurir-se completamente. É exatamente o que as pessoas que atravessam ou atravessaram a síndrome sentem: uma completa falta de energia para realizar qualquer coisa relacionada ao trabalho. 

Mas é importante fazer uma distinção. Afinal, todo mundo vive dias ou até mesmo fases estressantes na vida profissional. Isso é natural, por exemplo, quando estamos trabalhando para entregar um projeto importante ou vamos encarar uma mudança de cargo. 

Sentir-se mais irritado ou ansioso nesses momentos não significa necessariamente estar esgotado. O esgotamento tem características específicas e uma recuperação muito mais complexa.

Desde janeiro de 2022, a burnout deixou de ser um transtorno psicológico e passou a ser uma doença ocupacional de acordo com a nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11). 

A partir daí, existe uma série de encargos e responsabilidades legais que as empresas precisam ficar atentas! 

Falaremos mais sobre isso nos tópicos seguintes.

Principais causas da síndrome de burnout

Por enquanto, é importante você saber que o estresse crônico, que pode gerar a síndrome de burnout no ambiente de trabalho, pode ser provocado por um misto de fatores individuais e organizacionais, relativos ao ambiente em que a pessoa está inserida. 

Confira as principais causas:

  • excesso de cobrança, incluindo a autocobrança;
  • ambiente e condições de trabalho inadequadas;
  • desvalorização profissional;
  • longas jornadas de trabalho;
  • ambiente profissional injusto;
  • grande volume de trabalho;
  • conflitos interrelacionais;
  • problemas financeiros;
  • alta competitividade;
  • pouco tempo de descanso.

Por conta das características que descrevemos acima, a síndrome de burnout atinge com uma frequência ainda maior os profissionais que realizam atendimento ao público e trabalham por muitas horas sob pressão, como professores, médicos, enfermeiros, policiais e atendentes de telemarketing.

No entanto, qualquer profissional pode ter esgotamento por conta do trabalho, independentemente da idade, nicho de atuação ou tempo de experiência. 

Inclusive, os workaholics, que são pessoas viciadas no trabalho, tendem a sofrer com esse distúrbio. 

Sintomas mais frequentes no esgotamento profissional

Fique atento ao comportamento e as queixas dos colaboradores para prevenir o agravamento da síndrome de burnout no ambiente de trabalho. Os principais são:

  • dores de cabeça;
  • insônia;
  • alterações de humor;
  • cansaço;
  • desinteresse;
  • déficit de atenção;
  • nervosismo;
  • problemas de memória;
  • queda de cabelo;
  • problemas com alimentação;
  • não conseguir se desligar do trabalho;
  • baixa autoestima;
  • sensação de incapacidade;
  • tonturas;
  • entre outros.

Diferença entre estresse e burnout no ambiente de trabalho

É comum que as pessoas tenham dificuldade em diferenciar estresse e burnout que, como vimos, é um estresse crônico relacionado ao trabalho que não foi bem administrado. 

O estresse "convencional" é uma reação natural do corpo humano e acontece quando o nosso organismo nos coloca em estado de atenção. Apesar de também provocar alterações físicas e emocionais, o estresse não é uma doença, e se acontecer só em determinadas situações, é algo normal. 

Afinal, que adulto não passa por situações estressantes de vez em quando, não é mesmo? Ele pode ser provado por conflitos na família, problemas no trabalho, problemas em relacionamentos amorosos, entre outras razões. 

No entanto, é preciso ter atenção! Quando ficamos muito estressados, sentindo essa exaustão e irritabilidade por muito tempo, podemos sofrer com problemas de saúde, como doenças intestinais, insônia, alergias, doenças de pele e a síndrome do esgotamento profissional. 

Veja alguns sintomas que podem surgir quando estamos estressados:

  • batimentos cardíacos acelerados;
  • alterações na respiração;
  • cansaço;
  • roer unhas;
  • dificuldade de memorização;
  • excesso de preocupação;
  • dificuldade de concentração;
  • irritabilidade. 

Apesar da semelhança de muitos sintomas, você consegue perceber a diferença entre o estresse e a síndrome de burnout no ambiente de trabalho? 

O estresse excessivo e prolongado causado pelo trabalho pode ser entendido como esgotamento profissional, mas se o estresse for algo corriqueiro ou mesmo se for intenso e provocado por questões não relacionadas ao emprego, não se trata de burnout. 

O impacto do burnout na sua empresa

Ninguém consegue entregar bons resultados quando está exausto, desanimado e extremamente estressado. Por isso, a burnout afeta diretamente a produtividade dos colaboradores. 

Mas a baixa efetividade das entregas individuais e do time não são os únicos pontos impactados pela síndrome de burnout no ambiente de trabalho.

Veja a lista de questões que podem ser observadas na sua empresa por conta desse estresse crônico:

Quais as consequências legais para as organizações?

Além disso, como citamos anteriormente, a empresa tem algumas obrigações burocráticas e financeiras a cumprir. A primeira delas, é abrir um CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) até o próximo primeiro dia útil. 

Caso o trabalhador precise de um afastamento maior do que 15 dias, também é necessário que seja encaminhado à Previdência Social um auxílio-doença e, a partir daí, o profissional não pode ser demitido no período de um ano. 

Durante o período em que o colaborador estiver afastado, a empresa precisa continuar pagando todos os benefícios do colaborador, como planos de saúde, recolhimento do FGTS e vale-alimentação e/ou vale refeição, além do auxílio-acidente e ainda pode ser indenizada, tendo que arcar com as despesas de:

  • medicamentos;
  • internações;
  • exames;
  • tratamentos médicos.

Neste cenário, a organização ainda fica suscetível a processos por danos morais. 

Depois de saber tudo isso, você entendeu ainda melhor a importância enorme do assunto, não é?

Primeiros sinais de um colaborador exausto

O diagnóstico de burnout pode ser realizado por psicólogos ou psiquiatras. Médicos generalistas, clínicos e médicos de família também podem realizar, porém, para afastamento, geralmente o INSS pede relatório de médico especialista. Entretanto, a empresa pode e deve ficar atenta aos primeiros sinais para conseguir auxiliar o colaborador no que for preciso. 

Geralmente, um colaborador exausta apresenta:

  • sensação de esgotamento físico e mental;
  • dificuldade em manter a concentração;
  • baixa produtividade;
  • mudanças bruscas de humor;
  • doenças frequentes;
  • atrasos e ausências injustificadas;
  • baixa autoestima.

Como o RH pode evitar o esgotamento no trabalho?

Existem inúmeros fatores que podem levar um funcionário a ter burnout, por isso mesmo a empresa deve tomar medidas para evitar que essa síndrome afete os seus colaboradores. 

Dê uma olhada nas dicas que separamos!

Promova boas condições de trabalho

Todos os colaboradores possuem recursos, ferramentas e estrutura para executar o trabalho para que foram designados? Se a resposta for não, é indispensável agir para fazer as mudanças necessárias.

Além das questões estruturais, é necessário observar se existem cargas extras de trabalho. Pode acontecer, por exemplo, de um profissional estar com muitas responsabilidades por ter absorvido atividades de outros setores. 

Ofereça bons benefícios de saúde

Segundo uma pesquisa desenvolvida por nós, da Pipo Saúde, 82% das empresas brasileiras oferecem planos de saúde para seus colaboradores. Isso é ótimo! 

Mas, quando se trata de saúde mental, o cenário é bem diferente: apenas 39% oferecem psicoterapia como benefício aos funcionários.

É importante entender que, apesar destes investimentos serem altos, não fazer isso significa prejudicar a própria empresa. Afinal, você acabou de ver como a síndrome de burnout impacta o ambiente de trabalho. 

Além disso, é importante você saber que há anos o Brasil é o país com mais pessoas ansiosas do mundo, o segundo mais estressado também no ranking mundial e o mais depressivo da América Latina

Isso vem aumentando ainda mais depois da pandemia de Covid-19. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, estamos vivendo uma pandemia de saúde mental. 

Diante deste cenário, é possível ver como cuidar da saúde física e mental dos colaboradores não é mais opcional. Além disso, os resultados gerados fazem este esforço valer a pena: de acordo com a OMS, para cada R$1 investido em saúde mental, R$4 retornam para as empresas. 

Invista em comunicação interna

Assim como em qualquer tipo de relação, o diálogo é essencial para construir um relacionamento saudável entre a empresa e os funcionários. 

A comunicação interna precisa estar em dia para garantir que o colaborador saiba exatamente o que a organização espera dele e também para que ele se sinta confiante para falar sobre suas dificuldades, medos, ideias.

Isso sem falar que manter uma boa comunicação interna melhora o ambiente de trabalho, alivia a pressão, melhora a produtividade e evita conflitos entre os funcionários. 

As avaliações de desempenho, a utilização de OKRs, pesquisas de clima, disponibilização de canais de comunicação e treinamentos são exemplos de ferramentas que podem ajudar nisso.

Valorize os funcionários 

Sentir-se reconhecido nos mais diversos círculos sociais que fazemos parte, incluindo o trabalho, é uma necessidade humana.

Quando o colaborador sente que, por mais que se esforce, ele nunca é reconhecido, ele vai ficar frustrado, desmotivado e até irritado com a empresa e/ou seus líderes.

Para evitar isso, a valorização dos colaboradores precisa sair do discurso e ir para a prática, no dia a dia do negócio.

Criar planos de carreira, oferecer bons benefícios e criar uma cultura de feedback, por exemplo, são medidas importantes para fazer com que isso aconteça.

Mas, ainda mais eficaz é estabelecer e dialogar com os próprios funcionários para entender suas necessidades e desejos no ambiente profissional. 

Incentive o equilíbrio entre vida pessoal e profissional

O maior vilão comportamental para a síndrome de burnout no ambiente de trabalho é o workaholismo. Por isso, fazer vista grossa e permitir que a empresa se beneficie às custas de overachievers, ou seja, aquelas pessoas que não se contentam em fazer só o básico, não é promover saúde mental. 

É fundamental que as pessoas responsáveis pelos colaboradores cuidem do seu bem-estar ativamente. E isso envolve, entre muitas outras coisas, orientá-los sobre hábitos que são e que não são saudáveis no trabalho.

Um workaholic pode até ser “benéfico” para a empresa durante três meses, mas vai adoecendo e, antes que se perceba, é mais um funcionário que está afastado. 

Aliás, a síndrome do esgotamento se tornou uma doença ocupacional justamente para que empresas também cumpram com suas responsabilidades em relação à saúde organizacional. 

Algumas ótimas maneiras de fazer isso são: reduzir ao máximo as horas extras, não permitir reuniões no horário de almoço ou realizar uma short friday, uma vez por mês, quando os colaboradores podem ser dispensados mais cedo às sextas-feiras e, assim, possam prolongar seu período de descanso. 

Sensibilize os colaboradores para a importância de cuidar da saúde

Oferecer benefícios como plano de saúde e psicoterapia é fundamental, mas ainda pode não ser o suficiente. 

Se não houver um trabalho de conscientização na empresa de que saúde física e mental são igualmente importantes, muitos dos colaboradores podem não fazer a sua parte. Ou seja, cuidar de si mesmos utilizando os benefícios. 

Por isso, faça rodas de conversa, workshops, palestras com especialistas. Estas atividades tendem a mudar o comportamento negligente em relação à própria saúde, infelizmente muito comum, e o estigma em relação à saúde mental, que ainda é fortíssimo.

Sem trabalhar estes temas internamente, os colaboradores podem, sim, continuar adoecendo.  

A importância de campanhas como Janeiro Branco

A saúde mental e física dos trabalhadores é um assunto muito sério, que precisa ser debatido e tratado sem tabu pelas empresas. Por isso mesmo, não deve ser trabalhada o ano todo e não só em meses específicos.

Porém, campanhas como o Janeiro Branco, mês da conscientização de saúde mental, podem impulsionar iniciativas dentro das empresas. 

Inclusive, a ideia da campanha nasceu justamente porque a virada do ano nos faz ficarmos reflexivos sobre os caminhos da nossa vida. O excesso de metas na virada do ano, por exemplo, pode ter um efeito rebote e desmotivar as pessoas. 

Que tal começar o ano falando sobre saúde mental, mas também propondo atividades que reforcem o bem-estar e o bom relacionamento entre colegas no trabalho?

Se você se interessa pelo assunto, não deixe de ler o nosso e-book "Estresse e burnout: como manter o ambiente saudável e a produtividade em dia"

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